segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Trechos do Livro Elogia da Loucura de Erasmo de Rotterdam

“Eu ( a Loucura*) me revelo, como já disse, com meu rosto e meus olhos (...) não uso disfarce, não dissimulo no rosto o que não sinto no coração. Sou sempre igual a mim mesma. Não ponho a máscara, como aqueles que pretendem representar um papel de sábios e andam desfilando como macacos vestidos de púrpura e como asnos com pele de leão. (...) A deusa Loucura não pode classificar de modo mais honesto seus adoradores. Mas não se sabe de onde venho. (...) Nasci de Plutão (...) ele não me gerou de seu cérebro, como o fez Júpiter com essa triste e cruel Palas, mas fez-me nascer da Juventude, a mais formosa e alegre das ninfas. (...) Sou filha das relações de amor somente, como diz nosso Homero, o que é infinitamente mais terno.(...) (Minhas companheiras são*) a Philautia, isto é o amor-próprio; Kolaxia, a adulação; Lethes, o esquecimento; Misoponia, a preguiça; Hedone, a volúpia; Anoia, a irreflexão; Tryphe, a moleza; Komo, a boa mesa; Nigreton Hypnon, o sono profundo. (...) Cada momento da vida seria triste, fastidioso, insípido, aborrecido, se não houvesse prazer, se não fosse animado pelo tempero da Loucura. (...) Conivência, menosprezo, cegueira, ilusão em relação aos defeitos dos amigos, complacência a ponto de avaliar e admirar os vícios mais evidentes como qualidades, não será isso, acaso, estar próximo da loucura? (...) é precisamente loucura que une os amigos e os conserva na amizade.”


* Grifo meu

Um comentário:

  1. Ah, se conseguíssemos, como a loucura, nos apresentar sem máscaras, despidos de qualquer envólucro!
    Muitas das vezes fazemos uso de máscaras para nós mesmos e não nos reconhecemos no espelho...

    ResponderExcluir